Pensamentos II

O Método Científico

O método científico é uma navalha contra a ignorância e o autoengano. Apesar de existir mais na vida do que a ciência, e precisarmos levar em conta coisas subjetivas como nossos sentimentos, tomar decisões baseadas neste método é de geralmente melhor. O método científico também usa experiências passadas para construir uma visão de mundo, mas fundamentalmente, não se baseia na memória. Baseia-se em experimentos e registros escritos que são examinados, analisados, discutidos, enterrados, ressurgidos e finalmente ou descartados ou [possuindo valor genuíno] incorporados ao corpo do conhecimento.

Como aprendi em anos recentes, algo curioso ocorre quando você transfere o conhecimento do seu cérebro para um pedaço de papel. De repente, está lá para pedindo para ser questionado. Ele fala com as outras sentenças escritas de uma maneira que não é permitida dentro dos nossos pensamentos. Ele se separa de nós. Você é muito mais capaz de detectar erros e premissas falsas. Você pode então refiná-lo em iterações sucessivas, numa peneira que deixa apenas o que há de precioso.

Acredito firmemente que as decisões políticas deviam seguir os pareceres técnicos que são baseados apenas no método científico. Esta é a verdade, que é melhor conhecida por nós. Se você vai contra uma determinação científica, e esta determinação foi de fato produzida pela aplicação rigorosa do método, você irá prejudicar a sociedade. A comunidade científica é feita de pessoas, falíveis, e deve ter portanto meios de evitar abusos e desvios de conduta. É minha opinião que atualmente estes meios se mostram insuficientes. As pessoas comuns então percebem erroneamente que as verdades científicas são apenas opiniões. Apesar disto, as vezes mesmo nossas mentes mais brilhantes são confrontadas com desafios intelectuais que são muito abrangentes para nossa imaginação limitada e chegamos as conclusões erradas. Estas são, ainda, a verdade como melhor poderia ser conhecida.

A Ciência é a jornada para descobrir o que realmente, mesmo, não muda.

Uma coisa bastante curiosa é que não é realmente fácil de se imaginar que alguém fosse desenvolver o celular antes de inventar o telefone com fio. Em geral, não somos capazes de imaginar algo muito distante do que já existe, apesar de existirem fantásticas exceções. Colocamos ênfase nessas exceções na quase profética natureza dessas imaginações. Para mim, esta é a razão pela qual figuras históricas como Leonardo da Vinci são tão dignas de nota. Não é muito diferente da tarefa de imaginar que em 25 de Dezembro de 2143, estará chovendo as 04:37 da manhã no jardim da praça da Universidade de Cambridge, e estar absolutamente certo sobre o ocorrido.

Com cada invenção, novas possiblidades se destravam. Cada geração sonha com o futuro de maneiras ligeiramente diferentes, estas maneiras mudam com o passar do tempo, vinculadas ao conhecimento científico vigente. Existe uma qualidade de progressão na invenção, apesar de poder ser mais como um polvo de vários tentáculos se esticando agressivamente em todas as direções. 

 As pessoas tem sido atordoadas muitas vezes com a pergunta de se alcançamos um nível de sofisticação tecnológica para ser considerado "elevado" quando comparado a gerações passadas, apenas para ser consideradas Neardertais da pedra-lascada por homens que vieram em seguida. Quando me encontro frente a estas questões, frequentemente pondero que a opção é pendurar nossos jalecos, encontrar um maravilhoso pôr-do-sol em uma praia e observá-lo pela eternidade. Mas isto seria uma vida bem chata, no fim das contas. É do meu entendimento que não fazemos Ciência porque nos reveste de prestígio, não fazemos nem mesmo porque absolutamente precisamos. Fazemos porque amamos fazê-lo. 

Agora, não descarte tão facilmente aquela ideia da praia. Haverá um tempo em que teremos todas as questões respondidas a nossa satisfação, ou melhor, a nossa presunção? O que vêm depois de espiar por cada buraco no cosmos? Será que está além do que define a palavra "humano"?

A verdade é que tudo o que pode-se dizer é que esta jornada é longa. Se cronometrarmos certo, e usarmos de esperteza e sabedoria em nossos passos, então ela pode se estender por muito tempo. Muitas gerações podem então conhecer a alegria de aperfeiçoar os métodos e ferramentas que foram usados em gerações passadas, encontrando a próxima peça do quebra-cabeças. Parecemos existir em um jogo feito para ser jogado com muita, mas muita paciência.

A Navalha de Occam

[reservado para uso futuro - preciso pesquisar melhor as coisas antes de escrever aqui]

A Floresta

A Floresta do Conhecimento se estende para além do horizonte, à sua volta.

Você se aventurou para dentro dela, caminhando sobre aquelas árvores centenárias, sem realmente pedir para estar lá. Ninguém lhe perguntou se você queria aprender sobre Bhaskara, ou as Guerras do Império Otomano. Mas você se sentou em todas aquelas aulas, do mesmo jeito. Talvez você tenha olhado para o céu azul por uma janela um dia, e tenha pensado como teria sido bom passar o dia lá fora brincando ao invés de dentro da sala de aula. Poucas pessoas se reservam ao direito de se perguntar porquê realmente fazemos as coisas na vida.  

Algumas pessoas tomam para si esta imposição de forma leve. Parece natural aprender coisas, até prazeroso. Para outras, é necessário algum convencimento para que elas encontrem usos para o que está sendo difícil de ser empurrado para dentro de seus crânios. Eu estremeço ao pensar nestas pessoas tentando se convencer de que aprender sobre ciclos de Carnot vai vir a ser útil no seu emprego futuro de vendedor*. Eu digo a você que aqui que a única razão pela qual você estuda tais coisas é porque os professores não tem a menor ideia do que lhe ensinar, assim como você não faz a menor ideia de porque as aprende.

A verdade mais fundamental é que existe um timing para aprender algo. Ás vezes, agora não é a hora certa. Alguns anos mais para frente, e você poderá se encontrar apaixonada pela mesma coisa que lhe dava pesadelos de exames finais antes. Descobri por experiência que quando nos engajamos em um Projeto pessoal que nos exige aprender uma parte específica do Conhecimento ou um conjunto de habilidades, somos mil vezes mais dispostos a aprender do que quando não víamos do que aquela coisa realmente se tratava. Os professores frequentemente estão tentando fazer exatamente o oposto disto, e tentando nos ensinar coisas das quais não temos a menor utilidade. Você compraria um kit de chaves de consertar bicicleta se você não tivesse uma bicicleta?

Mas existe uma boa razão para dar uma passada por cima das coisas, uma razão realmente boa para ser tão ganancioso quanto você puder em aprender. Se você pudesse ter um panorama das ferramentas disponíveis para você, seria mais habilitado para selecionar a ferramenta correta quando o momento chegar. É por isso que não devemos nunca negligenciar ter uma visão ampla sobre as coisas, tentar relacionar cada ferramenta a um problema específico, tentar entender suas razões de existir. E sim, todas as estatísticas dizem que é mais provável que você ganhe mais dinheiro para cada ano passado em uma sala de aula. Apenas pessoas realmente humildes aceitam que serão ignorantes sobre algum aspecto por toda a sua vida, e assim jamais podem parar de aprender. 

Mas existe mais a ser explorado nesta analogia da Floresta. 

Suas trilhas levam a todos os lugares, cruzando umas as outras, e pessoas de todas as origens caminharam por seus caminhos durante a História do Homem. Algumas trilhas são bem marcadas, o solo é compacto com milhares de passos. Essas trilhas são confortáveis aos pés, mas oferecem pouco em termos de recompensas. Outras levam a lugares sombrios e estranhos da floresta que só um punhado de pessoas já estiveram. Quem sabe o que existe nestas partes, talvez só a dificuldade dos espinhos, talvez uma vista de um topo de montanha onde sentimos profundamente conectados a natureza. 

Nesta Floresta, uma pessoa deve sempre encontrar coragem dentro de si, toda vez, para se aventurar nas brenhas desconhecidas. Percorrê-la é um verdadeiro martírio num dia quente de verão. Mas ninguém realmente se perde nela, não para sempre pelo menos. Você pode precisar de algum tempo para achar seu paradeiro, mas sempre pode contar com a ajuda de um estranho para lhe apontar a direção correta. Habitantes da Floresta são conhecidos por fazerem de profissão a tarefa de guiar as pessoas por estes caminhos, mantendo-os longe do perigo e de problemas desnecessários. Estas almas encontram conforto na companhia das árvores e das criaturas da Floresta.  

E todo o momento em que você perambula pela Floresta do Conhecimento, você vê os raios de Sol a medida em que são filtrados pelas folhas das altas árvores, e você sabe lá no fundo que está no caminho certo, de que este é o lugar que você deveria estar. Pois todos nós nos aventuramos ali, ela nos conecta uns aos outros, e a cada homem e mulher que já existiu. Se alguém algum dia disse "Apoiando-se nos ombros de Gigantes" foi para reconhecer este fato. 

Então, como ocorre com qualquer pedaço de mata virgem, a Floresta do Conhecimento é sagrada. O que diriam aqueles homens e mulheres se pudessem falar com você, hoje, se você usasse o Conhecimento arcano para o mal e as espertezas? Quando fatiamos mais um artigo, um veado-campeiro é morto por esporte na Floresta. Inventou um número em uma tabela de resultados, lá se vai outra árvore lenhada abaixo. Usou o conhecimento obtido em boa-fé para desenvolver armamento nuclear? A floresta agora arde em chamas.


*Por favor não me entenda errado nesta passagem aqui. O mundo precisa de vendedores assim como precisa de pós doutorandos. Se cada um de nós contribuir com  aquilo que fazemos de melhor, construímos uma sociedade da qual podemos nos orgulhar. 

A Ciência Não Pode Ter Fronteiras

Então, quem inventou o Cálculo, afinal, Newton ou Leibniz?

Veja bem, existe algo profundamente errado em se perguntar esta pergunta, para começar. Por que veja bem, na minha opinião, a Ciência pertence tanto a um único homem quanto o ar que você respira pertence a seus pulmões. Precisará você ser o primeiro a escalar uma montanha, para ver o pôr-do-sol do topo das nuvens, eu pergunto? Nós nos fazemos este tipo de perguntas pois elas acariciam nosso ego, mas ao fazer isto empobrecemos o esforço de cada homem que adicionou um pequeno tijolo neste grande monumento que é o Conhecimento Humano. Quanto, na sua mais nova descoberta, você deve a esses homens?

É engraçado reparar com,o frequentemente estas questões de prioridade estão relacionadas ao nacionalismo. No jogo de poder das nações, nos esquecemos de que a Ciência é o nosso meio de sobrevivência. É ela quem irá determinar no fim se iremos prolongar nossa estadia nessa Bola de Gude Azulada. Entretanto insistimos em construir nossas cercas, nossas barreiras-pagas e nossas redes de informação privilegiada, e ao fazer isto relevamos quase 6,64 bilhões de pessoas fora da busca fundamental para entender um pouco melhor o Universo e transformar esse conhecimento a nosso favor. Que oportunidade perdida, na minha opinião. Existem momentos em que imagino quantas pessoas estão presas na luta pela sobrevivência básica, sem serem capazes de erguerem suas cabeças e se situarem. Existe tanta beleza em perceber quão perfeitamente estão dispostas as equações do Universo, e privar alguém desta experiência é nega-la a um aspecto fundamental do que significa ser humano. 

É chegado o tempo de derrubar as últimas paredes. Digo de realmente nos unirmos como espécie, de ver além de nossas diferenças superficiais. De ver além de nossa ganância, e lembrar que o dinheiro é um meio para um fim e não um fim em si mesmo. De construir para nós mesmos, um futuro mais brilhante. Isto é o que significa a União. A Ciência precisa encontrar um lugar elevado em nossas sociedades que não conhece restrições, além das limitações impostas pela Ética. Ela deve ser capaz de florescer, e cabe a nós encontrar um meio para que ela seja capaz de fazer isto. Se você perceber o quanto a internet tem mudado a maneira como trocamos informações, apenas imagine o que poderia ser feito se apenas uma fração maior dela fosse realmente sem fronteiras. 

Não é fácil. É um problema aberto em organizar a sociedade como recompensar alguém pelo seu trabalho, e ainda tornar seu trabalho irrestrito. De fato, resolver este problema parece ir de encontro a própria natureza das sociedades capitalistas. Tentamos resolver este problema de muitas formas, por exemplo ao inflar o ego dos cientistas com prestígio, e criar um sistema de patentes que não consegue acompanhar a velocidade com que o Mundo evoluiu. Nenhuma das formas parece funcionar para nós. 

Mas a Ciência não pode ficar para trás porque somos incapazes de dividir. É muito preciosa para isto. Em cada conhecimento privado preso em um domínio corporativo, existe uma oportunidade perdida de se avançar o jogo, mais rápido, talvez rápido o bastante. Precisamos de meios coletivos de adquirir o que foi desenvolvido de maneira privada e tornar isto público, até mesmo recompensando as companias. Naturalmente isto só pode ser atingido após muita deliberação e dentro do mais estrito escrutínio público. 

A Ciência não pode conhecer fronteiras. Cada homem que vive dever ter o direito aos frutos daquilo que foi conquistado pelos pesquisadores que vieram antes dele. Este é o verdadeiro legado de um Cientista. Não o número de citações em um artigo, mas como ele positivamente mudou a vida das pessoas ao redor do Mundo, como seu trabalho os alcançou.  

BANNER IMAGE CREDITS: NASA, ESA, the Hubble Heritage Team (STScI/AURA), A. Nota (ESA/STScI), and the Westerlund 2 Science Team 

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